Sempre!
Sempre o peso a marcar o trajecto da minha vida!
E não, não por ter sido sempre obesa, mas por ter sido extremamente magra e detestar comer.
Nasci rechonchuda.
Com uns quase quatro kilos.
A enfermeira que me alimentou no hospital vaticinou: “esta niña va a ser obesa..."
Bem, tendo em conta o peso com que nasci não seria nada difícil adivinhar tal destino.
Porém, quando comecei a andar emagreci e a garganta e os ouvidos (sempre andaram "à turra e à massa") ajudaram à festa
. Ficava fula com os comentários:
"Ai M estás tão magrinha!”,
"Tu não comes?".
" A tua mãe dá-te fome?" - Uma alegria, está visto. Tudo era "mau"...
-" Come M! "
- "Não há roupa que te sirva"
- "Pareces uma Etíope!"
- "Um pau de virar tripas...!
GOD!
Ele eram comentários parvos, concursos para comer, toneladas de vitaminas!
Só na praia e tinha fome. Atacava as peras rocha, que a minha mãe levava aos kilos. Como sabiam bem!
Para além da enfermeira Domitília, também o meu pediatra dizia que eu ia ser gorda... (lembro-me do ar condescendente da minha mãe a olhar para mim e para o médico... Sim, gorda, pois)
E pelos meus 12 anos, quando comecei a ser menstruada, descobri o que era ter fome e, pior, o prazer da comida.
Lembro-me perfeitamente de onde estava e das circunstâncias que me fizeram comer alarvemente, pela primeira vez: num campo de férias, em Monção. Lembro-me de me ter enervado e de me sentir sozinha... pelo meio apareceram uns belos bifes com batatas fritas para me acompanharem.
1,2,3 foi dado o pontapé inicial.
Lembro-me de ter engordado ligeiramente, mas eu não tinha essa noção.
Para mim eu era magra.
O que os outros diziam até me confortava: " Oh M estás mais gordinha" e eu sentia-me menos culpada por ser o "pau de virar tripas".
Mas o grande” Boom” aconteceu quando o meu irmão morreu.
Perdi o meu irmão e ganhei uma nova companhia: a comida.
Fazia carradas de papa saluzena e comia, comia, comia. Tentava deliberadamente encher o vazio. E como o vazio não desaparecia...eu comia!
Fico por aqui... Revisitar memórias custa e há que saber dar tempo aos afectos.
bjs
M
Sem comentários:
Enviar um comentário